sexta-feira, 21 de setembro de 2007

| 12 de Abril de 2005 |


“... Por ti junto aos jardins cheios de flores novas me doem os perfumes da primavera.
Esqueci o teu rosto, não me lembro de tuas mãos,
como beijavam os teus lábios?
Por ti amo as brancas estátuas adormecidas nos parques,
as brancas estátuas que não tem voz nem olhar.
Esqueci tua voz, tua voz alegre, me esqueci dos teus olhos.
Como uma flor a seu perfume, estou atado a tua lembrança imprecisa.
Estou perto da dor como uma ferida, se me tocas me farás um dano irremediável...”



Pablo Neruda, 1978 (de Para nacer he nacido)



Não estranhe começar esta carta com uma poesia de Neruda.
Falo com intimidade: Neruda. Por que estou mais do que nunca apaixonado por ele.
É... apaixonado.

Ele que é tão misterioso quanto à nuvem do céu da tua boca, onde minha cabeça irracional muitas vezes explorou jorrando alegria e vida em vão.

E ao mesmo tempo tão in-ocente como comer um pedaço de pizza com a mão e lamber os dedos melados em uma ação in-esperada, e sentir prazer.

Ele, Neruda in-vadiu minha alma sem pedir licença, assim como um dia fizeste a minha pobre mente.

E em forma de poesia ele deixa sementes que me faz sentir paz através da dor, como há muito eu não tinha.

Quero escrever com amor.
E quero fazer isso com coerência, para não perder a razão e cair no óbvio.

E com amor, recito esta poesia através do vento, aonde chegará aos teus ouvidos de uma forma nítida e suave, as minhas doces e ao mesmo tempo tão amargas palavras escritas nesta carta... Mesmo que me sinta tão cansado, não vou deixar de falar a verdade mais profunda e in-certa que o in-finito.

Verdade que vem deste pedaço de carne por onde e sem trégua, arremessa o fluido que faz minha vida ter vida.

Há tempos não in-comodo os teus ouvidos. Os mesmos que um dia escutaram meus suspiros, como quem se afoga no mar calmo e raso, a procura de se libertar aos gritos da vontade de te dizer: te amo.

Te amo. Em forma de vida.
Te amo. Em forma de socorro.
Te amo. Em forma de morte.
Te amo...

Com a mesma in-tensidade de te falar com os olhos apertados, que não és hoje a mais perfeita. Fazendo-me assim, entristecer.

O meu “In”, hoje, é mais do que in-certo.
É certo.

Mais do que in-seguro.
É seguro.

Mais do que In-grid, é...“Out”.
Como os peixes in-vertebrados que um dia acolhestes dentro do teu lago profundo e quente. E como uma onda gigante os expulsasse de tal forma, que os sinto até hoje,
in-quietos a tua procura.

Procura essa que cessou.
Procura que não existe e
que nunca existiu de tua parte.
E hoje, não mais da minha.

Minto.

Peço licença e perdão para minha falta de pudor, e acrescento a minha in-ocência, tal como
a do meu primeiro amor.
Que hoje a ti tenho, ou tinha.

Minto.

E que se tornam lembranças... As mesmas, que não passam de momentos carnais.

Minto.

Momentos esses, que aos poucos são tomados por uma enorme e forte vontade de te dizer só mais uma vez... Só mais uma vez...: Como é bom te ter só minha, só minha... Desnuda e linda como uma rosa pequena desabrochando que cabe na palma de minha mão.

Mão esta, que consegue em meio ao campo imenso de um outono sombrio, te achar.

Rosa que é comum.
Mas tão diferente.
Tão única.
Que é in-visível a olho nu.
Assim como o castelo que construímos.

Nu, que me faço neste in-stante, sem ti.

Sem tua voz ofegante pedindo em forma de clemência para não parar de te amar loucamente, entre gritos de desejos e compassos apressados de nossos corpos.

Assim, da mesma forma apressada que tua alma me deixou.
Alma essa, que está armada, e que tem surtos in-cessantes de loucuras, que é capaz de nos tirar da terra.

Terra que pára.

Pára ao sentir o clímax do nosso amor.
Amor esse, que não mais existe...
Ao contrário da tua delgada linha de lua nova, que tem tua cintura: cintura esta, que toco diariamente ao ver o céu do meu quintal.


In-grid.

Nem in, nem out.
É assim que me encontro nos teus pensamentos perdidos.
Que é achado por outro sem nome.

Nome que hoje tenho, Edu-ardo.
Que tanto te aqueceu nas tardes e noites frias.
Na tão sonhada e desejada Ilha não linear da vida.

Ilha que não mais existe.

Minto. Existe sim.

Mas tempo é o que realmente não temos. “E mesmo assim, quero exercitar a faculdade de abstrair as aparências, medíocres ou dramáticas que encobre a beleza divina subjacente em tudo”. E por isso mais uma vez me perco no tempo, mesmo sem tê-lo.

Tempo, que não controlas mais.

Controle que tenho e que tu me roubas, assim como fez “esse” Porto Alegre pela segunda vez, roubando mais um amor meu... Mas sei que muitos virão... Sem in e out.

E por isso, estou saudoso de uma primavera tão esperada, e ainda, não vivida de nossa vida a dois...
Em um único e só corpo... e mente.

Me abrace e me dê um beijo.

Minto.


Natal, 12 de Abril de 2005.